sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

meus acordes
       que me adormeçam

minhas notas
       que me esqueçam

minha partitura
      que me espedace

meus timbres
      que gritem libertação

meus instrumentos
      que toquem o mundo

meus solos
     que se unam

E que meu Maestro

     seja o Tempo

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

AD INFINITUM

neste

                                       momento

vasto

turbilhão de pensamentos

                me levam por um mundo

tão vago

             neste

                          vasto


     momento

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

POEMA SOBRE NADA

O ser e o nada na poesia

este é um poema sobrenada
sem imagens/sem rimas
sem palavras
este é um poema sobre nada
não faz sorrir
não faz chorar
não faz sentir nada
este é um poema sensentimento
sem entendimento
sem nada
este é um poema sobrehumano
sobre o comum/subnatural
é sobrenada
nem calça/nem chão/nem estrada
é sobrenão

Este é um poema sobre nada
não tenfim/nensurgimento
nem tem nada

este é um poema/um poema sobre nada

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

NASCER DO DIA À LUZ DE VELA

Você hoje tá mais calada. Nunca foi assim. Sempre depois que transávamos você começava a falar e a falar e a rir por horas inteiras. Se lembra, às vezes eu até dormia e quando acordava lá estava você, me olhando e falando comigo como se eu estivesse acordado ou então de olhos fechados te escutando? Aí de repente você parava, me olhava sorrindo e dizia simplesmente: “por que você num fala nada... num fala nunca? Tem medo que eu use suas palavras contra você? Não se preocupe, jamais faria isso. É que gosto das palavras, dos sons delas, do movimento dos nossos lábios e de toda articulação do nosso corpo que elas provocam e exigem quando falamos. Uma vez uma mulher com quem dormi – ela era professora de Literatura – me disse que toda essa minha conversa sobre as palavras era coisa de poeta. Poetisa. Poesia. Num sei, sabe? Gosto das palavras pelas palavras.” E você finalmente silenciava. Com aqueles seus olhos miúdos em cima de mim. Esperando alguma palavra minha. Alguma frase, como agora estou fazendo contigo. Eu nunca falava. Hoje, você não diz. Mas sabe por quê eu num dizia nada? Porque sempre achei desnecessário, meio inútil... Falar... Usar as palavras era sempre isso pra mim: dizer uma coisa que não era exatamente o que você queria dizer e que, ainda por cima, a outra pessoa entendia uma coisa que nem era o que você realmente queira falar nem o que as palavras usadas deram a entender. Num sei se fui claro. Mas a comunicação é confusa, é precária. Só o silêncio cria uma relação entre nós que não é nem cumplicidade nem indiferença. É como nós dois agora, eu falando e você aí calada, mas não porque não entenda o que eu digo ou não se interessasse. Mas simplesmente porque estamos num mesmo lugar vivendo experiências completamente diferentes. Eu, vivo, do seu lado, divagando. Você quieta e muda, no seu canto. Morta... Morta. Minha morta. Tua morte. Nossa morte... A morte é um mistério, hein, me diz, é um mistério? Pelo seu silêncio tão calmo, me parece mais que a morte é como a vida, exatamente igual só que pelo avesso: nem precisa ser dita. Basta estar aqui pra viver. A gente existe – a vida em nós. A morte (in)existe na vida em nós. Você, morta, existe na minha vida. Eu, vivo, (in)existo na sua morte. Uma existência estimulando a outra. Exterminando a outra. O meu prazer o seu silêncio. O seu silêncio o meu prazer. Nós dois aqui, eu vivo você morta – vida e morte lado a lado, uma revestindo a outra, depois do sexo, depois do amor. Amor, morte... O seu corpo frio, roxo. As nossas roupas jogadas no chão. Num sei por quê falo tudo isso. Eu sei, eu sei. Num precisa me olhar assim, de olhos estáticos. Sei que na verdade estou pensando tudo isso. Mas diz, o que as palavras do pensamento também não omitem? O que elas também não podem dizer com clareza e exatidão? Clareza... Clara o dia... Claridade. Mas também, o que a luz esconde quando somente a escuridão revela? É, eu sei. Melhor apagar as luzes. O dia vem surgindo entre as brechas da janela. Os raios de sol – uma multidão que nos espia. Melhor apagar a luz, puxar as cortinas da janela. Deitar ao teu lado. Me aquecer em ti. E velar o teu corpo... ainda meu corpo... à luz de vela.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

UrBanzo

Banzos negros
Negros banzos
ouçam minha voz
cantem meus cânticos!

A minha voz nunca cantou Banzos d'África
nem nunca morreu de suas notas e melodias
Minha voz é surda e nada resgata
dos cânticos saudosos dos negros cativos

Banzos negros
Negros banzos
ouçam minha voz
cantem meus cânticos!

Minha voz suburbana
Meu canto inaudível
Meu lamento nostálgico -
Meu ancestral vagido

Banzos negros
Negros banzos
ouçam minha voz

cantem meus cânticos!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Like A Possum

(tradução livre da música de Lou Reed – álbum Ectasy – 2000)

— Bom dia
Toda noite
É um novo dia

Eu sou como um gambá
Ao sair da toca
Todos podem sentir o cheiro
do meu corpo, do meu rosto
de gambá
Minha boca e meus dentes
de gambá
Minhas orelhas e meu focinho
de gambá

Ao levantar
meus ossos de gambá
me doem
Seus estalos ecoam
mata urbana adentro

E ela me olha
como um anjo
despido de nuvens
querendo se entregar

“Mas
Oh -
ela diz

Olhe para mim!
Olhe para mim!

Ponha o seu amor
aqui
Ponha o seu amor
aqui”

Aponta um abismo de luz
no alto céu da palma da mão

Eu passo por ela
como um gambá
Passo árvores
Edifícios
Amores
Tentações
Promessas

— ARR! ARR! HÃNR! HÃNR!
Eu sou único!
Eu sou único!
Você entende?

Passo a largos passos

“Jogue seu amor -
fragrância de gambá -
em mim”

E ela a me perseguir
com seus acordes que soam
como um enxame de zangões alucinados

— Há um buraco
na minha alma
Há um buraco
na minha alma
Há um listra branca
no meu dorso preto

O Sol queima o ar
raivoso de ciúmes
Meu perfume recende
na atmosfera cinza-cio

— Este meu amor
Você nunca vai entender
E eu vou prosseguir
alto feito um gambá
à noite, sozinho

Vivo nas noites
de bares cheios
celebrando todos os mortos
que trago dentro de mim
todas as podridões
de existências antepassadas

— Há um buraco
na minha alma
Há um buraco
na minha alma
Há um sorriso brando
no meu rosto obscuro


- Eu sou único
Eu sou único
Entenda: mais do que um anjo
eu preciso viver
eu preciso de vida





quarta-feira, 30 de outubro de 2013

FEBRE DO RATO

_Da Anarquia do Amor

FEBRE DO RATO
FEBRE DE AMOR
                  AFETO
             E O FATO
A FEBRE
              RANCOR


*
_O Mijo de Eneida

A CHUVA FINA
O MIJO FARTO
AS MÃOS
             SERPENTINAS
PRA FORA DO BARCO

*
NO MIJO – NA BICA
NO OLFATO – NA PICA
NO RATO – NO MATO

O AMOR SÓ CONSOME
O AMOR
SE
CONSOME
NA FEBRE
DO AFAGO

*
_Ruídos Silentes

DIANTE DO RUGIDO
               AFLITO
               DO MAR
               PALAVRAS
SÃO SÓ MUGIDOS DE QUEM NÃO SABE FALAR

*

NA OFICINA SATUrADA
A IMPrESSOrA SUA
ENQUANTO O HOMEM
LHE INJETA ESPErMA
E ÂNSIA MOrTAIS
E A MULHEr SE MUTILA
PARA A GULA FEBrIL
NA RESISTÊNCIA DO COrPO

ENTRE O VAI-E-VEM
OS rAIOS – AS IMAGENS
FÓSSEIS VIVOS
QUE SE DEVOrAM

*
Recife, cidade do mangue
Incrustada na lama dos manguezais
Onde est
ão os homens caranguejos

RECIFE
OLINDA
(OU LINDA?)
CIDADE SEM PESSOAS
ONDE OS EDIFÍCIOS MORREM
AMARELOS DE FEBRE
E AS PONTES ENFERRUJAM
AOS PASSOS DO TEMPO QUE PASSA

CARANGUEJOS CIBERNÉTICOS AGONIZAM
AOS SOTAQUES TECNÓLOGOS SULISTAS
NA TRAMA DA LAMA
PALAFITAS SUFOCAM SOB
O INFERNO DOS CÉUS

CIDADE SEM CIÊNCIA
                SEM CHICO
                SCIENCE

Ó CIDADE QUE EU NUNCA VI
SÓ ESCUTEI

À Geração Manguebeat


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

...SECRETO DO TEMPO

Deitei-me com sombras tão álgidas em uma noite de festas e fogos multicores e insonoros

Suas mãos sombreadas pelo ardor do meu rosto me afagaram com dureza e ternura

Envolveram-me os ossos cinzentos fazendo-os estalarem como beijos de lábios trincados

Sussurram-me ruídos agudos em meus ouvidos cheios de sangue noite e de luz

Despiram-me com amorosidade e untaram meu corpo com trevas luminosas solidão e
                                                                                           [alegrias intempestivas

Tocaram-me com trêmula delicadeza Cortando-me os cílios e os medos
                                                   [E me inclinaram sobre mim mesmo
feito um túmulo celeste de flores amaldiçoadas


E só então pude dormir o sono profundo secreto do tempo

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

NEM EUMESMO

Que seja orgulho
a minha incompreensão
E vaidade
o meu segredo

Que seja vulnerável
o meu egoísmo
E suscetibilidade
o meu “eu-mesmo”

Que seja carência
o meu amor
E desejo
a minha solidão

Que seja fero afago
o meu carinho
E ódio
o meu olhar vermelho

Que seja imposição
o meu silêncio
E loucura
a minha lucidez

Que seja sublime
o meu escuro
E áspera
a minha luz

Que seja exato
o meu contrário
E oposto
o meu acerto

Que sejam flores negras
as minhas estrelas
E imenso mar
o meu céu revolto

Que seja vontade
o meu pensamento
E indiferença
o meu desespero

Que seja estar-sendo
o meu ser
E firmamento
a minha palavra


Quem sabe de mim senão nem eumesmo

Cruz e Sousa

Furiosa fúria
fosse fraqueza frívola
de teu furor fumegante
farias furtivos fulvos
e de teu frêmito frenesi
farias frágeis furações
Força
Forma
Formosura
Fragata furibunda
fosse fogo fátuo fastioso
fluirias feito fluído fétido
Ó força fabulosa
flâmula febril
formidável fogueira fluorescente
força fora todas as formas fugazes
Fuuu... Fuuu... Fuuu...!
Fulmina
força
fúria
famélico furação
fusão infinita de fagulhas
felina fênix feérica
fomentas fendas faiscantes
feneces falsas flores
Flamejas flecha flamejante
forças fleumáticas
Flambas fluidos flácidos
fragrâncias flatulentas
Furor fantástico
fragata furiosa
de infindos furações de fogo
faças fluir fogaréus de frescor
Fuuu...
Fuuu...
Fuuu...
(Vida)

Fogo...

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

MISTÉRIO DE ELIMAR

Elimar era um ser ENORME, muito mas muito GRANDE.

Tinha uns olhos profundos, vagas, vagos.

A gente nem sabia ao certo se Elimar era ele ou ela.

E isso aumentava inda mais nossa curiosidade.

Elimar às vezes passava pela gente e parecia que ia levar a gente junto. Era incrível!

Arrastava e devastava tudo com uma força fantástica. De tão emocionante chegava dar um pontinha de medo.

Eu e os outros queríamos nos aproximar d'Elimar mas não sabíamos como.

Os mais velhos viviam discutindo possíveis histórias sobre Elimar. Uns diziam que Elimar já tinha matado muito gente. Outros, que Elimar já tinha levado muita gente pra bem longe.

Tinha também aqueles que diziam que Elimar era culpado por muitas saudades e histórias corajosas.

Navegantes, guerras, donzelas, piratas, marinheiros, descobrimentos....

A gente ficava na dúvida, impressionados com tantas histórias fabulosas. Pensávamos e pensávamos, tanto e tanto, que a gente ficava tonto.

Ficar olhando pra Elimar, assim, durante muito tempo, meio que perdido, esquecido de tudo, enfeitiçado por aqueles olhos imensos, infinitos de se perder no horizonte... também deixava qualquer um tonto de zonzo.

Só que também se sentia uma calma danada se um olhasse pra Elimar quando estava tudo sereno, manhecido. Tão bom!

Tinha vontade de mergulhar em Elimar, me aprofundar pra sempre.

Igual àqueles seres que viviam dentro d'Elimar, nadando no seu corpo oceânico, marinho.

- Aquário móvel de amplidão!

Mais tarde, vamos reunir o pessoal pra contar mais histórias. Eu já escolhi a minha: vou dizer um poema – o poema Mistério de Elimar.


O mar tá de ressaca. E os pescadores vão ter que esperar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Linhas de Schiaparelli

vistos do espaço

os espaços

são linhas ine}{istentes

Mesmo assim

o olho humano
animal

insiste em traçar medidas
onde só há distâncias

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SEM PALAVRAS - PRAZER SOLITÁRIO

Gozo humano? Gozo de pessoa. Gozo da carne, do osso – explosão do corpo todo. Todos os sentidos. A sensação de alívio. O louco delírio. Acompanhado de agonia. Deus deve ter se sentindo assim quando ejaculou a natureza e entreviu um mundo sendo criado por superespermatozóides. O outro ser. A pessoa, lá, deitada ao seu lado. Aquela passividade. Aquele silêncio cheio de rumores. O lençol repleto de solidão. Os olhos fixos no vazio que só olhos da gente nessas horas podem ver. A lembrança sem acontecimento. A memória atemporal. Como se fôssemos parte duma recordação presente. Me aborreço. Mando embora. Anda, levanta e sai. Vai. Tão seco. Mas isento de mágoa. Apenas a sensação de que as palavras não servem, não dão conta de expressar o que sinto. O que me aflige. Me interroga. Por quê? A mente da gente... nós mesmos... a grande dúvida. Ter alguém. Ela, a outra pessoa. Uma maneira de termos a nós mesmos. Fisicamente? Carne e osso. Suor e pele. E o vazio que não cabe no espaço. Na distância entre nós. Na distância dum espaço tão mínimo. Não é o vazio vazio. O oco solto. A melancolia. É mais como enfiar a mão por dentro de si mesmo e sentir-se sem se sentir. Sem, em ti. Sem, em mim. Vai. Não pergunta. Não diz. Isso não tem nada a ver com o que podemos dizer um ao outro. Nada do que aconteceu importa. Tem importância? Então vai. Sai pela porta. Quem sabe em outra circunstância. Agora, quero estar só comigo. A sós comigo. Não diga bobagens. Isso não tem nada a ver contigo. É como tudo. A comunicação? A comum ação? Não é por que falamos a mesma língua... não é por que usamos praticamente as mesmas palavras, expressões, ditos, frases e tudo o mais que isso, que temos algo em comum. Que partilhamos as mesmas experiências. Que expressamos exatamente igual, ou às vezes com pequenas variações, aquilo que vivemos. A comunicação. A comum ação. A comungação. A comunhão. É mesmo isso? A solidão do nascimento. A solidão do viver. A solidão sólida em nós. A alegria estéril no sorriso. Não vêm com a gente. Vêm com os outros. Dos outros para nós. De nós para os outros. Veste a roupa e me diz o que sente enquanto abro a porta e vejo você sair. Amor, não. Vai embora. O meu desejo não está mais no gozo do teu corpo. E o meu corpo não deseja mais ser teu. Vai. Sem medo. Sem tristeza. Que a vida é solidão. Alegria... satisfeita consigo mesma.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VERSOS&REVERSOS

escrevo neste momento
porque não tenho vontade
nem sei o que escrever

           apesar disso
não escrevo com indiferença
             apenas escrevo

como alguém que sabe que escreve
só porque não tem o quê escrever
            e assim
pode se aventurar de outra forma
                      em meio às palavras

as PALAVRAS
               estas minhas de agora
nada têm com os sentimentos
ou com minha vontade
                 só com ELAS mesmas
que são muitas e simples
como as estrelas que existem

não são como eu que
por viver em meio a tanta gente
                  sozinho
traz dentro de si uma multidão profusa

de inúmeras faces

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Boca Verte-Cal



deus dá uma baforada na madrugada O sereno nebuliza as cortinas cerradas
el silencio yaz en un rincón Se balançando como autista
as santinhas no oratório
{em vigília constante
}não se olham{não se atrevem
brincando de centrífuga
com umbigo
el chico se acerca de las santas No las mira
não ousarias – o sagrado
fere machuca
pune os imprudentes
o sermão da missa Su consuelo umbiguista
parado
as santinhas desconfiam
no hacen nada dios traga soberbio su cigarro de bezoar
será que têm sexo? levanta os mantos sacrossantos
das santas imantadas

VIRGENS BOÇAIS
LINGUETAS RIJAS
PRAZERES FRÍGIDOS

una jauría se desbanda apresurada {os destroços da presa cessam seus gemidos

}num convento a irmã acorda Sentindo comichão nas partes íntimas

antes de cerrar las ventanas Um beijaflor passa voando Con un murciélago no bico

deus solta sua fumaça ácida na cara assustada do mundo FUUUU

as santas vertem um líquido viscoso {pastoso} de sus ojos espermiungidos
o garoto se contorce no chão Dando glórias pelo antimilagro que testemunha
a dios poco le importa morir de cancêr de pulmão – así lo

AD-VERTE EL ANTIMONASTERIO DE LA SALUD

segunda-feira, 29 de julho de 2013

E (X) {PERIMENTO LABORIAL Nº17}

antes do Universo
o verso do aquário outonal
bexigas e lulas
fazendo revoluções nos tornozelos
na poesia
los pequeños
la cola
el negruzco
vinde a mim
e eu os encaminharei pelo Vale das Sombras da Morte morangos mofados estrellas silvestres olor de aurora de banheiro grilos mentindo sorridentes a vida por eles vão os cri cri das bucetas encrespadas y el vagido de los ordenadores melancólicos la libertad de estudiar los sexos examinando feridas com celulares doismegapixels Verão Discos Redes Sociais !!!!! He visto ángeles violentos desposando vírgenes de la vejez Velásquez Piva Pizza Ghost de trapos xamânicos em Transe na Terra da Garoa Ácida Metralhadoras delirantes Vão frias pelos mares Da queda ao coice o grito sozinho a viagem no organismo vivo DNA ONU e terremotos tridimensionais Na sala de jantar cadáveres Sacis Pererês sodomizando enfermos de Halloween ¿Oh sed inmortal? Calles de framboesa El hambre mercúrio e o sol em suspiros de supernovas... doble uve doble... v.... VV....w... martirios encendidos Se los llevas las olas de cristales Ojas trabajando en dormitorios descubiertos Solo Malo Vecino los oídos del ayer Los Versículos Los Testículos Los Testigos el árbol de silicio tres chinos tristes para tez tigres tres Momos glaciais Harlow! Nicolélis naco (plato) de lis Purê de silicone com limonada de préssal Limosna de Monja congoja de nicotina /-/-/-/ fazem asas sem pernas Vibradores com chagas Cartões de crédito de poeira cósmica Una chica adormecida demuestra al Einstein los punteros retrógrados del volcán argentino ¿!?¡ En un matadero de São Paulo Preto Velho e Pan tragan palomas En una Isla del Brasil una iglesia sobre as ruínas de um lençol inglês Brick by Brick la mano tropieza en la cola de dios Jueves Winter(I)Fell O fel Némesis
la bruma lejana
el continuo espacio-temporal
drinks de Cannes
la hoguera de la Inquisición de la Democracia Humana
ventos velas besos belas muertos mierdas
ATCHIN ATCHIN ATCHIN: ¡!
todo más excepto los síntomas sin escalofrío

terça-feira, 16 de julho de 2013

O ESQUELETO

Entre as roupas mofadas com cheiro de naftalina, o esqueleto estava pendurado num cabide especial.
A pele abriu a porta do armário e, tocando a textura das roupas penduradas, sentiu a frialdade da estrutura de cálcio. Pegou o esqueleto e o vestiu.
Após acomodar as partes e alisar as dobras e amassados, olhou-se no espelho: ajeitou as órbitas oculares e os ombros que estavam em desarmonia com o resto do corpo.
Abriu uma gaveta na penteadeira e escolheu uma peruca. Cabelos pretos, fios longos. Acomodou as têmporas e se penteou sem muita convicção.
Calçou os sapatos que lhe vieram obedientes.
Abriu o armário novamente e demorou um pouco na escolha do figurino. Repreendeu-se: sempre se esquecia de se vestir antes de colocar o calçado. Para não ter que tirar os sapatos, escolheu uma calça ou um short de boca larga.
Foi até a beira da cama onde, sobre os lençóis amarrotados, estava uma caixinha de joias. Apertou um trinco. A caixinha se abriu. Entre o brilho das joalherias, aspirou a pérola ciano. Sentiu o corpo inflar completamente. A circulação sanguínea e os estímulos nervosos. Encheu os pulmões de ar e inspirou ruidosamente. Animou-se.
Enfiou o revólver no bolso da blusa e foi para rua. Em busca de um novo figurino – um novo esqueleto.


segunda-feira, 8 de julho de 2013

PINK FLOYD

fluídos rosas

no céu morto de pompeia

a luz escarlate

o chão

tingido de cinzas

na memória

de cada fóssil

a sombra aprisionada

no espaço

terça-feira, 2 de julho de 2013

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Insônia Onírica


Deito às 22h33. E acordo às 08h27. Nem todo dia, mas geralmente. Apesar disso, tenho dormido pouco. Dormido mal. Até deito e durmo e só acordo noutro dia. Mas acordo com sono, acordo cansado. Tenho sonhado muito, e durante os sonhos percebo que estou sonhando. Então estou acordado, o tempo todo, numa espécie de insônia onírica. Durmo um sono insone. Acordo, e sinto que não dormi. Sonho, logo me vejo. Em sonho. Não durmo. Malsonho. E me vejo neles. Sei que estou sonhando. E no dia seguinte desperto com dor de cabeça e irritado.

Não dormi. Sonhei. Acordado. Sempre desperto. Numa vigília infernal.

Queria dormir e não sonhar. Ou ao menos sonhar e não saber que estou dormindo.

As pessoas nos meus sonhos, elas não têm rosto. Mesmo assim, sei quem elas são. Imagino. Até mesmo as que desconheço. Tudo em preto-e-branco. As imagens. O sonho. Em escala cinzenta, meio desfocado. Amorfo. Sem foco. Sem forma.

Nem pessoas, nem outros seres ou imagens. Quando malsonho, são “coisas” informes. Palavras. Apenas evocam pessoas, lugares, acontecimentos... uma infinidade de artigos e repertórios oníricos. E eu sempre no meio. Sendo sonhador e sonho ao mesmo tempo.

Malsonho que estou morrendo. Não sei exatamente como mas vai caindo em cima de mim, me apertando, me esmagando. Cada vez mais. Impiedosamente. Estou morrendo esmagado, sufocado, quebrado, comprimido. Morto. Droga! Mesmo ciente de que é apenas um sonho, isso dói. Assusta. A morte que sonha com a gente. E amedronta.

A Morte sonha comigo. Eu tento fugir. Escapar. Acordo assustado. Respirando com esforço. Tentando me acalmar. Malsonho que ela sonha comigo. Não. De novo não. Quero sonhar sem estar desperto.

Me cubro. Me escondo. De quem? Se tudo escuro. Silêncio. Apreensão. Estou sendo perseguido. Mas por quem? No mar, na cama, num pântano. De algas cinéreas. No fundo, um mergulho, centopeias de fogo. Então corro. Frenéticas.

Acordo. Não durmo, se sonho.
Palavras – imagens – sinais – anônimos
Levanto. Não caio. Ando por um solo movediço. Violeta. No sonho o escuro é violáceo. Em escala cinza. Escorregadio. Difícil de se manter em pé.

Espera! Não sinto. Não vejo. Será que durmo sem saber que durmo? Ou sonho sem saber que sou sonhado?

Acordo. Não digo.
As palavras
Se dormi – sonhei
não sei
talvez

Malsonho do mundo
e a luz eternamente apagada



segunda-feira, 27 de maio de 2013

1984

1984

*
no macacão azul
o céu partido
em fuligem cinza
*
o tempo parado no tempo
agonizando o eterno tempo presente
1984 - é este o ano
ou tivera sido?
*
duplipensar sem pesar
as próprias idéias
*
na voz rouca das teletelas
"vigiar e punir"
os sucessos das paradas
*
o Grande Irmão zela por ti
com seu rosto impassível
nas entrelinhas do medo
*
na ingenuidade da revolta
o amor dissidente
como um fóssil revelando
dois corpos incrustados
no ardor do passado
*
no coração azul
sob o céu do Partido
duas lágrimas se rendem
Winston morre

sem nunca ter existido

quarta-feira, 15 de maio de 2013

(Edgar Allan Poe)MA

Edgar Allan Poe(MA)

                                   poeméfiro

              poefêmero

                                      poeféride

poemífero

Poe
the black cat
Poe
the butterfly

        voam estrelas negras
       go
  the never mind
                      back
the black cat
        fly
the never mind

o corvo
onde está minha mente
minh’ mente

nunca mais

Borboletas Negras

Borboletas Negras


Sempre desconfiei do que poderia ter atrás dessas paredes. Extensas e frias, pálidas como o destino humano. Porém, nunca tive coragem suficiente para derrubá-las, ou pelo menos fazer um buraquinho pelo qual fosse possível encaixar um único olho e entrever a escuridão do outro lado. Mas sempre senti certo receio, quase um pudor doentio. Ainda mais depois que soube daquela história de um homem que teria matado a própria mulher e enterrado ela num desses esquifes verticais de concreto. O que ele não esperava era que um bichano, negro e astuto, ronronante como a cínica da Justiça, revelasse seu segredo fúnebre.
Não que eu ache que possa haver um defunto encurralado entre essas paredes. Mas sinto que só eu posso desempenhar o papel do gato negro dissimulado, e desvendar para mim mesmo o que pode estar emparedado aí atrás.
Ás vezes, com os ouvidos grudados às paredes, passo horas ouvindo ruídos incertos, sem cores e sem vozes, através delas. Fico na expectativa ao ouvir um TUM-TUM tão familiar, e logo descubro que são apenas os batimentos do meu coração que me falam aos ouvidos.
TUM-TUM... TUNTUM... TUM-TUM – soa a escuridão do outro lado.
Me viro, apreensivo, contra as paredes, com medo de que algo possa vir me buscar.
Olho para teto, procurando um abrigo, e vejo a luz pendurada como aqueles cadáveres antigos numa forca. Lá em cima também deve haver alguma coisa que eu, de algum modo, pressinto. Talvez pensamentos sem ideias, ou colônias de cupins explorando uns aos outros.
Ou átomos, em constante atrito, se deteriorando ou se solidificando em massa e cimento. Ossos e suor.
Escuridão...
Não gosto dessas paredes, desses blocos de concreto dispostos um ao lado do outro, um na frente do outro, formando biombos protetores mas que também nos encurralam, nos sufocam e aprisionam. Mantendo em sigilo cenas de amor e desprezo, afeto e vingança, imagens do cotidiano que muitos dissimulam abominar nas notícias sórdidas e bizarras, estúpidas e banais. – O espanto hipócrita de uma sociedade que se autoflagela.
O espaço entre espaços... No espaço as paredes infinitamente grandiosas são tão negras e salpicadas de estrelas, planetas, galáxias, corpos celestes e astrais, são tão voláteis e revestidas de um silêncio absoluto, que é possível atravessá-las e descobrir outras dimensões porque nossos corpos rasgam fissuras na malha negra do Universo.
Talvez eu consiga transpor esses muros domésticos e descubra mundos desconhecidos, astronautas indigentes, satélites naturais, seres translúcidos ou um deus encurralado como um menino traquina tentando se enfiar entre um vão mínimo. Ficaria preso junto com ele, sentindo a frialdade dos blocos na superfície da pele. E de repente nossos pelos se desprenderiam, nossa pele se enrugaria e ficaria espessa e grossa, e seríamos lagartos escalando paredes e fugindo de preces e pedras.
Uma teia de aranha.
Nunca tinha percebida aquela teia de aranha, ali, naquele canto do teto. Não sei se é um buraco bem pequeno ou uma aranha bem preta e compacta aquela mancha. Pode ser um portal. Ouvi dizer que existem muitos portais espalhados pelo mundo todo e de diversas formas. Mas é melhor eu ter cuidado. Já me enganei uma vez sobre eles quando quase me afoguei na privada de um banheiro publico ao achar que o corpo que boiava calmo e pulsante sobre as águas sanitárias era um sinal, um convite para atravessar um portal. Merda. O mundo que conheci tinha muita merda. Um cheiro e um gosto fortíssimos de urina. Planeta Ureia com seu solo rochoso de bolos fecais.
Me aproximo devagar da teia. Ela é grande e está cheia de pó. É possível ver uns finíssimos fios de seda pendurados e descosturados dos demais. Esqueleto, vejo os restos de algum bicho, só a carcaça da cabeça ainda envolta num véu sufocante e mortal. Podiam ser meus aqueles restos de presa. Podiam ser meus os restos mortais que acharam na tumba de um faraó.
Ou minha, a dentadura de bronze que acharam entre os escombros de uma

antiga civilização, ou meu, o crânio daquele que pode ser o ancestral mais

antigo da nossa espécie.
agora, aquelas patas tão finas e pequenas, com uma pelugem negra saindo

do... da... saindo do... buraco... do abdômen... da aranha... antenas e asas...

uma três nove milhares de borboletas negras tornando escuro tudo ao redor.
polemizando poeira cósmica e agitando o ar abafado.
pego uma em minhas mãos, enquanto outras me rodeiam e me sobrevoam,

num envolvente voo de escuridão. meus olhos vão se aprofundando numa

perspectiva em espiral. vou sendo carregado e envolvido freneticamente.

atravesso rajadas cintilantes e objetos que passam por mim tão rápidos que

nem tenho certeza se estou realmente em movimento. ao fundo, uma forma

sólida, concreta, se dissolvendo em fiapos multicoloridos. estou em rota de

colisão com ela. o vento açoita meus pensamentos e eu só penso na viagem

de ser uma aranha com asas de borboleta. a agilidade e frieza de uma, com a

crueldade e a beleza da outra.
A vida tecendo seu destino tão obstinadamente. e sendo arrebatada sem nunca ter sentido o espasmo de um gozo amoroso.
as paredes que mantém em sigilo os segredos que nos doem. cada borboleta traz consigo uma expressão de sentimento e emoção. nas asas de uma, vejo os olhos grandes e maliciosos de alguém que eu amei e que se foi entre o vão entre os espaços. estou dentro das paredes que tanto temi e que, agora, me confortam como um abismo perdido na extensão do espaço vazio.
estou mais perto do gozo
mais perto do fosso
mais perto do parto
vejo a luz da saída
na vagina do mundo
borboletas furiosas

negras de cio