terça-feira, 10 de maio de 2016

CANÇÕES DE INVERNO


the winter is comming

o inverno está chegando

uivam os ventos

carregados do norte



os corpos

com cheiro de Verão

se arrepiam

como uma alcateia no cio



do alto de uma Torre

um menino com asas de corvo

despenca

 em direção a um abismo de sonhos



os ventos açoitam sua face


“as coisas que

 faço por amor”

“às coisas

 que faço por amor”

“há coisas

 que faço por amor”



 * 



arya stark


o fantasma de Harrenhal

se esgueira pelas sombras

escorrega pelas vielas

descalço de silêncio



sussurra nomes

que somem

(um homem... dois homens...)

e batalha bravamente

numa incessante quimera



já foi a indômita donzela Cara de Cavalo

e Arry menino

para poder vestir o Negro

Cabeça de Caroço

quando se mostrou valente guerreiro

Doninha

pra poder viver na lida

e até mesmo Nan -

a loba Nymeria



dançarina das águas

flui como lagrima furtiva

nos pequenos olhos da bravura



 *

 Jon Snow



o lobo bastardo

fruto do sêmen do Inverno

de uma manhã quente

sem nome



um grito de gozo

“snow!”



suas patas silenciosas

suas garras delirantes

cria de si mesmo

com seus olhos rubros



irmão negro

sem direitos e herdeiros

peregrina na defesa de Westeros



em seu amparo

Garralonga

a espada bastarda

do Velho Urso Comandante

com semblante de corvo



cria de uma mãe

que não tem nome

nem rosto

a mácula de uma honra decapitada

um segredo impermeável e frágil



um filhote desgarrado

entre a alvura do gelo



das presas

 escorre o sangue de uma presa

no corpo

corre o sangue gélido e secular do Norte

e dos selvagens antigos



sente cheiros invisíveis

 e ruídos taciturnos

e eriça o pelo

furioso no pressentimento



a lembrança amarga

de uma vida não vivida

e a semente inócua

tão infértil

quanto o solo inóspito

além-norte de Winterfell


 * 

 tyrion lannister


o pequeno demônio siamesco

tem três olhos

um verde

um negro

e um sábio e mordaz



mão do rei

pulso forte

em braços atrofiados e pequenos



o membro sedento

e as mãos de Shae



um amor comprado

uma ilusão necessária

num mundo de hostilidades



entre o carmesim

e a verdade sem verdades



e o cinza sem mentiras

gris como a maldade



e a corte de intrigas

e os mercenários selvagens



entre uma aranha eunuco

e um Mindinho empoado



entre as pernas abertas

o amor impossível e a luxuria



transitando entre tantos lados

astucioso na inocência



tão santo e casto

quanto um bordel

em tempos de guerra



tão honroso e vil

quanto títulos e honrarias



o duende Lannister

entre o bem e o mal

que não existem

ardiloso na justiça








BALADA DA DONZELA com CÃO DE CAÇA



            I

presa na masmorra

            do coração

a donzela chora e chora

a cada mágoa

            a dor de uma ilusão



chora e sonha

sonhos em floreios

bravos cavaleiros

vive o amor perfeito

            na ânsia louca da paixão



o fero afago

            real e carmesim

fere fel

e um doce amargo



            - por que choras, passarim?



o amor sangra

e se derrama

em ódio e fúria

            dentro de mim



donzela eu fui

            donzela eu era

mas agora

            a flor que medra

é rude e pálida

um vil cetim



o meu príncipe

            virou um rei

e agora

             eu já nem sei

quem virá em meu socorro:



            se um cavaleiro ébrio, bobo e delirante

            se um cão de caça beligerante

            se o cavaleiro das Flores

            ou mais horrores



            ou então a morte

            a me redimir...



            II

as dores que tu cantas

em lamentos ritmados

já ouvi outras tantas

em versos antepassados



sei que me face te espanta

mas olhe no fundo dos meus olhos

vês esse vazio em carne viva?

assim ficará teu coração

cada vez mais negro

cada vez mais rijo

e desse teu pequeno rosto

não se verá vislumbre de um sorriso

só o esgar

vergonhoso e ridículo

por amares tanto

o que deveria ser odiado

por fantasiares tanto

um mundo hediondo



é uma pena, passarim

não para eles

não para nós

não para mim

que acabes assim

e que nem o mais louco dos bardos

escreva uma canção sobre ti





 *


 Uma Canção de Verão



amei um donzela

linda como o verão

com luz do sol nos cabelos



seus olhos de verão

e seu cheiro veraneio

Deitar sobre o seu corpo

era como espraiar-se pelas águas



amei um donzela linda

radiante como o verão



seus cabelos ourossol

derramavam-se pelos seus ombros alvos

e seu rosto se escondia

em sombras cinzas-amarelas

e seu sorriso se expandia

um convite em segredo



Amei uma donzela

numa noite de verão



as estrelas salpicaram nossos corpos salinos

de aguamar, areia e orvalho

Exaustos, deitamos sobre a superfície do Sol

vazios e completos do nosso amor



Passou-se Primavera, Outono, Inverno...

Outro Verão...



Até que ela se foi

arrebatada de meus braços

por uma onda mortal

Eu afoguei o mar

com as lágrimas da lembrança:



amei uma donzela linda como verão