segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Linhas de Schiaparelli

vistos do espaço

os espaços

são linhas ine}{istentes

Mesmo assim

o olho humano
animal

insiste em traçar medidas
onde só há distâncias

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SEM PALAVRAS - PRAZER SOLITÁRIO

Gozo humano? Gozo de pessoa. Gozo da carne, do osso – explosão do corpo todo. Todos os sentidos. A sensação de alívio. O louco delírio. Acompanhado de agonia. Deus deve ter se sentindo assim quando ejaculou a natureza e entreviu um mundo sendo criado por superespermatozóides. O outro ser. A pessoa, lá, deitada ao seu lado. Aquela passividade. Aquele silêncio cheio de rumores. O lençol repleto de solidão. Os olhos fixos no vazio que só olhos da gente nessas horas podem ver. A lembrança sem acontecimento. A memória atemporal. Como se fôssemos parte duma recordação presente. Me aborreço. Mando embora. Anda, levanta e sai. Vai. Tão seco. Mas isento de mágoa. Apenas a sensação de que as palavras não servem, não dão conta de expressar o que sinto. O que me aflige. Me interroga. Por quê? A mente da gente... nós mesmos... a grande dúvida. Ter alguém. Ela, a outra pessoa. Uma maneira de termos a nós mesmos. Fisicamente? Carne e osso. Suor e pele. E o vazio que não cabe no espaço. Na distância entre nós. Na distância dum espaço tão mínimo. Não é o vazio vazio. O oco solto. A melancolia. É mais como enfiar a mão por dentro de si mesmo e sentir-se sem se sentir. Sem, em ti. Sem, em mim. Vai. Não pergunta. Não diz. Isso não tem nada a ver com o que podemos dizer um ao outro. Nada do que aconteceu importa. Tem importância? Então vai. Sai pela porta. Quem sabe em outra circunstância. Agora, quero estar só comigo. A sós comigo. Não diga bobagens. Isso não tem nada a ver contigo. É como tudo. A comunicação? A comum ação? Não é por que falamos a mesma língua... não é por que usamos praticamente as mesmas palavras, expressões, ditos, frases e tudo o mais que isso, que temos algo em comum. Que partilhamos as mesmas experiências. Que expressamos exatamente igual, ou às vezes com pequenas variações, aquilo que vivemos. A comunicação. A comum ação. A comungação. A comunhão. É mesmo isso? A solidão do nascimento. A solidão do viver. A solidão sólida em nós. A alegria estéril no sorriso. Não vêm com a gente. Vêm com os outros. Dos outros para nós. De nós para os outros. Veste a roupa e me diz o que sente enquanto abro a porta e vejo você sair. Amor, não. Vai embora. O meu desejo não está mais no gozo do teu corpo. E o meu corpo não deseja mais ser teu. Vai. Sem medo. Sem tristeza. Que a vida é solidão. Alegria... satisfeita consigo mesma.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

VERSOS&REVERSOS

escrevo neste momento
porque não tenho vontade
nem sei o que escrever

           apesar disso
não escrevo com indiferença
             apenas escrevo

como alguém que sabe que escreve
só porque não tem o quê escrever
            e assim
pode se aventurar de outra forma
                      em meio às palavras

as PALAVRAS
               estas minhas de agora
nada têm com os sentimentos
ou com minha vontade
                 só com ELAS mesmas
que são muitas e simples
como as estrelas que existem

não são como eu que
por viver em meio a tanta gente
                  sozinho
traz dentro de si uma multidão profusa

de inúmeras faces

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Boca Verte-Cal



deus dá uma baforada na madrugada O sereno nebuliza as cortinas cerradas
el silencio yaz en un rincón Se balançando como autista
as santinhas no oratório
{em vigília constante
}não se olham{não se atrevem
brincando de centrífuga
com umbigo
el chico se acerca de las santas No las mira
não ousarias – o sagrado
fere machuca
pune os imprudentes
o sermão da missa Su consuelo umbiguista
parado
as santinhas desconfiam
no hacen nada dios traga soberbio su cigarro de bezoar
será que têm sexo? levanta os mantos sacrossantos
das santas imantadas

VIRGENS BOÇAIS
LINGUETAS RIJAS
PRAZERES FRÍGIDOS

una jauría se desbanda apresurada {os destroços da presa cessam seus gemidos

}num convento a irmã acorda Sentindo comichão nas partes íntimas

antes de cerrar las ventanas Um beijaflor passa voando Con un murciélago no bico

deus solta sua fumaça ácida na cara assustada do mundo FUUUU

as santas vertem um líquido viscoso {pastoso} de sus ojos espermiungidos
o garoto se contorce no chão Dando glórias pelo antimilagro que testemunha
a dios poco le importa morir de cancêr de pulmão – así lo

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