Gozo
humano? Gozo de pessoa. Gozo da carne, do osso – explosão do corpo
todo. Todos os sentidos. A sensação de alívio. O louco delírio.
Acompanhado de agonia. Deus deve ter se sentindo assim quando
ejaculou a natureza e entreviu um mundo sendo criado por
superespermatozóides. O outro ser. A pessoa, lá, deitada ao seu
lado. Aquela passividade. Aquele silêncio cheio de rumores. O lençol
repleto de solidão. Os olhos fixos no vazio que só olhos da gente
nessas horas podem ver. A lembrança sem acontecimento. A memória
atemporal. Como se fôssemos parte duma recordação presente. Me
aborreço. Mando embora. Anda, levanta e sai. Vai. Tão seco. Mas
isento de mágoa. Apenas a sensação de que as palavras não servem,
não dão conta de expressar o que sinto. O que me aflige. Me
interroga. Por quê? A mente da gente... nós mesmos... a grande
dúvida. Ter alguém. Ela, a outra pessoa. Uma maneira de termos a
nós mesmos. Fisicamente? Carne e osso. Suor e pele. E o vazio que
não cabe no espaço. Na distância entre nós. Na distância dum
espaço tão mínimo. Não é o vazio vazio. O oco solto. A
melancolia. É mais como enfiar a mão por dentro de si mesmo e
sentir-se sem se sentir. Sem, em ti. Sem, em mim. Vai. Não pergunta.
Não diz. Isso não tem nada a ver com o que podemos dizer um ao
outro. Nada do que aconteceu importa. Tem importância? Então vai.
Sai pela porta. Quem sabe em outra circunstância. Agora, quero estar
só comigo. A sós comigo. Não diga bobagens. Isso não tem nada a
ver contigo. É como tudo. A comunicação? A comum ação? Não é
por que falamos a mesma língua... não é por que usamos
praticamente as mesmas palavras, expressões, ditos, frases e tudo o
mais que isso, que temos algo em comum. Que partilhamos as mesmas
experiências. Que expressamos exatamente igual, ou às vezes com
pequenas variações, aquilo que vivemos. A comunicação. A comum
ação. A comungação. A comunhão. É mesmo isso? A solidão do
nascimento. A solidão do viver. A solidão sólida em nós. A
alegria estéril no sorriso. Não vêm com a gente. Vêm com os
outros. Dos outros para nós. De nós para os outros. Veste a roupa e
me diz o que sente enquanto abro a porta e vejo você sair. Amor,
não. Vai embora. O meu desejo não está mais no gozo do teu corpo.
E o meu corpo não deseja mais ser teu. Vai. Sem medo. Sem tristeza.
Que a vida é solidão. Alegria... satisfeita consigo mesma.
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