quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SEM PALAVRAS - PRAZER SOLITÁRIO

Gozo humano? Gozo de pessoa. Gozo da carne, do osso – explosão do corpo todo. Todos os sentidos. A sensação de alívio. O louco delírio. Acompanhado de agonia. Deus deve ter se sentindo assim quando ejaculou a natureza e entreviu um mundo sendo criado por superespermatozóides. O outro ser. A pessoa, lá, deitada ao seu lado. Aquela passividade. Aquele silêncio cheio de rumores. O lençol repleto de solidão. Os olhos fixos no vazio que só olhos da gente nessas horas podem ver. A lembrança sem acontecimento. A memória atemporal. Como se fôssemos parte duma recordação presente. Me aborreço. Mando embora. Anda, levanta e sai. Vai. Tão seco. Mas isento de mágoa. Apenas a sensação de que as palavras não servem, não dão conta de expressar o que sinto. O que me aflige. Me interroga. Por quê? A mente da gente... nós mesmos... a grande dúvida. Ter alguém. Ela, a outra pessoa. Uma maneira de termos a nós mesmos. Fisicamente? Carne e osso. Suor e pele. E o vazio que não cabe no espaço. Na distância entre nós. Na distância dum espaço tão mínimo. Não é o vazio vazio. O oco solto. A melancolia. É mais como enfiar a mão por dentro de si mesmo e sentir-se sem se sentir. Sem, em ti. Sem, em mim. Vai. Não pergunta. Não diz. Isso não tem nada a ver com o que podemos dizer um ao outro. Nada do que aconteceu importa. Tem importância? Então vai. Sai pela porta. Quem sabe em outra circunstância. Agora, quero estar só comigo. A sós comigo. Não diga bobagens. Isso não tem nada a ver contigo. É como tudo. A comunicação? A comum ação? Não é por que falamos a mesma língua... não é por que usamos praticamente as mesmas palavras, expressões, ditos, frases e tudo o mais que isso, que temos algo em comum. Que partilhamos as mesmas experiências. Que expressamos exatamente igual, ou às vezes com pequenas variações, aquilo que vivemos. A comunicação. A comum ação. A comungação. A comunhão. É mesmo isso? A solidão do nascimento. A solidão do viver. A solidão sólida em nós. A alegria estéril no sorriso. Não vêm com a gente. Vêm com os outros. Dos outros para nós. De nós para os outros. Veste a roupa e me diz o que sente enquanto abro a porta e vejo você sair. Amor, não. Vai embora. O meu desejo não está mais no gozo do teu corpo. E o meu corpo não deseja mais ser teu. Vai. Sem medo. Sem tristeza. Que a vida é solidão. Alegria... satisfeita consigo mesma.

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