domingo, 14 de maio de 2017

Ser Feliz de Novo

Retóricas

quem de nós dois poderia prever
que os gestos de carinho
nas tardes gostosas no meio da semana
ou nas noites preguiçosas de domingo
se tornariam golpe traiçoeiro?

que o olhar com que nos amávamos
em silêncio ou gemidos
se tornaria em olhares enviesados
de acusações e até mesmo ódio?

quem de nós poderia prever
naquela ânsia louca entre beijos e entrelaçar de pernas
o sorriso desdenhoso de um
diante do desespero cabisbaixo do outro?

quem não se sente perplexo diante da lembrança
da alegria incontida dos dias de promessas de amor eterno
quando se encontra ouvindo palavras que contradizem 
tudo o que se viveu e que se quer lembrar?

Monólogo a Dois

- eu te amei em palavras e atos
- eu sei, mas não foi o suficiente
- eu te desejei mais do que a mim mesmo
- eu sei, mas não era preciso
- eu te consolei em todas as tuas quedas, no teu chafurdar na lama
- eu sei, mas eu certamente me levantaria sozinha
- me desculpe se te amei demais
- não faça isso, você sabe que as coisas não precisam ser assim

Retóricas

quem de nós dois poderia prever que tudo ia terminar assim
um sonho palpável, vívido
se esvaindo com a facilidade frágil de uma lágrima sem nenhum amparo?

Monólogo a Dois

- eu te traí, é verdade
- eu te perdoei, não negue
- eu te desejei e te amei, é verdade
- mas também a outra pessoa ao mesmo tempo, não negue
- eu fui fraca ao me deixar levar por loucos desejos
- eu fui tolo em acreditar que você poderia mudar

Doce Desilusão

que estranheza amarga essa de não reconhecer mais
a pessoa que mais se acreditava conhecer em toda sua vida;
que tristeza a desilusão de um amor que acaba;
que beleza indesejável essa de odiar o outro
e se sentir possuidor de uma dor atroz;
descomunal ilusão a dor causa quando percebemos tarde
a causa perdida

Epílogo

culpa de quem – queremos perguntar
mas nos calamos
por que sabemos que se desejássemos saber realmente a resposta
não nos entregaríamos mais a nenhuma outra possibilidade
de sermos feliz ao lado de outra pessoa
Talvez seja melhor sofrer a dor, a mágoa 
de um sofrer que sabemos passageiro
do que a certeza angustiante da impossibilidade de ser feliz
de novo

O Vento Sopra teu Nome

_De Poesias Piegas / Poemas Sentimentais


O vento sopra teu nome
É um sussurro quente, um gemido
Não, não estou perdendo a cabeça
Vejo tudo tão lúcido
Te juro, tenho os olhos limpos

O teu nome é um vento quente
ao pé d’ouvido
Eu te respondo:
- Estou aqui
E o vento passa
Um sopro sem boca
Um som sem grito

Eu sussurro o teu nome
O vento
sopra
e passa
Eu sei que é você
aqui comigo

SOLITUDE




_ter consciência de estar sozinho
põe a gente sentimental
A gente procura por qualquer caminho
mas só encontra um vazio sem-igual_

*
_ter consciência da solidão
é mesmo um pensamento em vão:
...você olha para coisas
as pessoas vêm e vão...
mas nada ganha forma
Os olhos turvos – um borrão_