O
poeta sabota o amor
só
pra ter o que escrever
A
sua estética parece não soar bem
com
coisas felizes
Foge
do clichê de um grande amor
se
refugiando na ilusão dos sentimentos amargos
Deitado
numa cama
de
uma mulher que logo esquece
nem
sabe do sofrimento daquela que o espera
A
poesia – um joguete retórico de palavras vazias
Quem
se enganou depois de se olhar no espelho
e
se sentir confuso, perdido?
A
barba rala por fazer
no
rosto amassado
A
luz se apaga e os olhos se afogam
na
escuridão vermelha
Chorar
não pode
a
tristeza pesa inerte sobre suas roupas no chão
Quem
condenará o poeta
por
ele falar de sentimentos
sem
saber exatamente o que sente?
(O
poeta é só uma pessoa que se perde
em
meio a tantas palavras
rabiscando
versos como quem
projeta
labirintos dos quais não se pode sair)
A
madrugada passa arrastada
rasgando
o amanhecer
Ele
veste a roupa
Ela,
deitada, nem se despede
sabe
que ele voltará sempre
a
atração irresistível de um consolo sem compromissos
Na
ressaca dos pensamentos
ele
sabe que só no retorno pra casa poderá dormir
Mas
a consciência embaça:
na
retina machucada pelo choro contido
o
rosto daquela que lhe abrirá a porta
dando-lhe
um beijo sincero
sem
fazer perguntas da noite em que esteve ausente
Ela
lavará o seu corpo
do
suor de um amor impuro
e
se deitará com ele na cama
O
gozo será lento e morno
entrecortado
pelos soluços dos dois abraçados
— e
lá fora será o mundo hostil