terça-feira, 4 de março de 2014

Poema da Mulher para a Amante

quando ele chegou
        assim
cabisbaixo, sereno, alheio ao meu anseio
nem notou o arranjo amoroso em cima da mesa
        de jantar
logo percebi: algo mudou, ele chegou mas não veio por inteiro
um boa-noite rouco, um afago fraco
os cabelos em desalinho
o colarinho amassado

eu pensei em desespero: te perdi

ele sentou, fingiu que comeu, mastigando em falso como quem devora angústias

       na sala – o silêncio suspenso nos gestos que a gente não fez

       o riso frouxo, ou o amor farto

a frase dele incompleta que eu não deixei
que proferisse

melhor, me disse, não dizer nada

agora eu sei que talvez ele chore baixinho
         [enquanto você dorme triunfante sobre o peito dele

          que um dia foi meu

Nenhum comentário:

Postar um comentário