sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

EI, GAROTO

Ei, garoto
Para onde você vai
Com esse olhar cheio de mágoas
E esses sonhos todos amassados
No bolso da calça?

Ei, garoto
Você sente mesmo pena dos soldados
Que lutam e morrem em guerras?
Mas você sabe que todos os dias
Você também luta e morre
Por ideais em que você não acredita

Ei, garoto
Quem sabe um dia
Você não ganha sua própria medalha
Por fazer aquilo que quer

Ei, garoto
Para onde você vai
Se arrastando por aí
Com essa cara de cachorro escorraçado?

Será que não consegue sentir
O cheiro dela no vento abafado que sopra?

Ei, garoto
Para que toda essa marra
E esses papéis?
Onde estão os seus amigos?
E o que eles, o que vocês sonhavam?
Uma féria por ano e carteira assinada?
(Não, não, você deve estar brincando...)

Ei, garoto, o que fizeram com você?
Por que você permitiu que aqueles velhos
Lhes colocassem gravatas de nós apertados?
Será que nunca ouviu a canção não se foge da luta?

Ei, garoto
Por que se enganar
Ignorando a glória
E os holofotes sobre o ídolo rock star?
Você não toca guitarra e, hilário dizer, mas também não sabe cantar
Faz rimas tão óbvias que suas queixas parecem refrões
De música pop

Ah, sim, me desculpe
Sua geração não fala de acontecimentos históricos
Para contar histórias de amor
Só aprenderam a serem cínicos e céticos
Sua geração de ironia estéril
Ninguém viu vocês na TV
Já que vocês se escondem é na internet
Esse labirinto metafórico dos seus anseios

Ei, garoto
Ah, a vida não presta?
Então pra que essa pressa de quem tem certeza de que jamais vai morrer?