Fazes-me falta, miúda
Tua presença ausência
Se faz sentir por toda a casa
Por todo canto no mundo
Para onde olho e não te vejo
Há um silêncio absoluto
Crescendo dentro de mim
Na mesma velocidade
Com que galáxias
E estrelas
Se expandem universo afora
Falas comigo e já não sou capaz de te ouvir
Ofereces-me tuas mãos sem substância
E tua boca sem brilho
E já não sou capaz de tocá-las
Ou sentir o cheiro da tua pele
Fazes-me falta
Porque tua ausência onipresente
Em todo lugar
Dentro de mim
Se projeta sombra sem corpo
Encobrindo de solidão meu ser tão frágil
Havia algo em ti que me pertencia
Uma semente informe evoluindo aos poucos
Negrume sem lume
Vazio uterino de dilatações exponenciais
A lógica retórica de uma recusa disfarçada
A vida esvaziada
De todo sentido de existência
Afeto feito fel
Derramando pensamentos desencontrados
Choros contidos de olhos fechados
Fazes-me falta e não te vejo
Evito espelhos por me lembrarem a imagem
De um homem
Sem jeito para as coisas práticas
Era tu, miúda, que me vestia
Para os rituais banais da vida cotidiana
Que me dizia a melhor combinação
Entre sapatos calças e camisas
Gravatas e meias...
Agora abro o guarda-roupas
Entre cabides em sentinela
Eu vejo um monstro indistinto
Visto-me sem convicção
Lembrando tuas palavras afiadas
Fazes-me falta
E nem mesmo a dor saudade
De ti
Me cabe mais no peito
Morrer, pequena, é deixar de sentir
E eu ainda te sinto
Ainda que não estejas mais aqui