MIGUEL
quero me perder no teu deserto
no deserto do teu corpo
nas dunas do teu dorso
quero me afogar nas areias dos teus cabelos
que as carícias das tuas mãos
me açoitem com a fúria de uma tempestade
que o silêncio entre
nós
nos deixe ouvir
“os ruídos das estrelas”
*
CLÁUDIA
Quando fores embora
e me deixar sozinha no vazio
me sentirei obrigada a ir em busca de nós
no deserto
a recolher memórias
como um arqueólogo de afetos
Talvez me vejas num take
esquecido
dos teus filmes
a vagar por um mundo de poeira calor e frio
sedenta do companheiro de viagem perdido
e com olhos carregados de solidão e desejo
a estender os braços para tocar o teu rosto –
uma miragem de fato e gravata
no teu deserto