Eu quero levar uma vida moderninha
Deixar minha menininha sair sozinha
Não ser machista e não bancar o possessivo
Ser mais seguro e não ser tão impulsivo
Mas eu me mordo de ciúme
Ultraje a Rigor - Ciúme
Quem nunca amou, não sabe do que seu egoísmo é capaz. Esse
pensamento me ocorreu quando eu estava deitado sobre as pernas dela, ouvindo
ela me chamar de mesquinho depois que eu lhe contei sobre a péssima noite que
eu tive de angústias, delírios e insônia, ao deixá-la sair sozinha com as
amigas.
O ciúme é uma insônia
infernal. (De um anônimo
de um século qualquer)
Ela tentou me explicar sobre a insegurança, sobre a falta de
confiança necessária no outro e em si mesmo que caracterizariam tal sentimento,
entre outros argumentos que geralmente são usados por essas novas mulheres
desses novos tempos para tentarem convencerem os homens de seu “machismo
inconsciente”.
Os pensamentos que tive, as dúvidas, os devaneios e até mesmo
os ímpetos violentos e sádicos que me acometeram e me perturbaram noite a
dentro, me fizeram considerar o ciúme como uma das mais elevadas manifestações
de egoísmo. Não se tratando, dessa forma, como ela tentava me convencer, de
fidelidade, de confiança, de machismo. Mas sim, de desejo, de poder, de posse.
- Mesquinho? (Eu exclamei sinceramente ofendido)
Também, certamente. Não vou negar esse lado obscuro e frágil
deste sentimento enfermo. Porém, as grandes paixões – as verdadeiras paixões são egoístas!, como escrevera Stendhal.
Somente aqueles que levaram até as últimas consequências seus atos apaixonados
para alcançar, para realizar os seus anseios ardentes e ridículos é que podem
entender perfeitamente, com aquela expressão alucinada de riso contido, do que
o egoísmo é capaz. E, em se tratando de relação amorosa, somente esses loucos
passionais, esses megalomaníacos se sensibilizam com o grau de obscuridade ao
qual o amor pode chegar.
O ciúme é um bálsamo de
cicuta e ácido. (De
algum grego anônimo)
- Loucura?
Não. Apenas uma lucidez sombria. De olhos de fogo e língua
flamejante. Um ser de fogo que, enquanto se consome, lança suas
garras-labaredas sobre o outro – estopim e objeto. E se ergue com a
desenvoltura desmedida de um fogaréu incontrolável e infatigável.
O ciúme é como ser lançado em um pântano de larvas, e ver-se
obrigado a forjar, a partir de si mesmo, o ser do qual você fora despojado.
Seus destroços insuficientes e ínfimos para obrar tal projeto.
Ela percebeu que eu já não a ouvia mais. Imerso em meus
pensamentos. Silenciou e fez carícias na minha cabeça.
Levantei de súbito. E sem dizer nada e sem olhar para ela,
saí andando, sentindo uma vontade terrível de chorar e, principalmente, de
fazê-la sofrer. Também. Essa noite, ela me paga...