quarta-feira, 30 de outubro de 2013

FEBRE DO RATO

_Da Anarquia do Amor

FEBRE DO RATO
FEBRE DE AMOR
                  AFETO
             E O FATO
A FEBRE
              RANCOR


*
_O Mijo de Eneida

A CHUVA FINA
O MIJO FARTO
AS MÃOS
             SERPENTINAS
PRA FORA DO BARCO

*
NO MIJO – NA BICA
NO OLFATO – NA PICA
NO RATO – NO MATO

O AMOR SÓ CONSOME
O AMOR
SE
CONSOME
NA FEBRE
DO AFAGO

*
_Ruídos Silentes

DIANTE DO RUGIDO
               AFLITO
               DO MAR
               PALAVRAS
SÃO SÓ MUGIDOS DE QUEM NÃO SABE FALAR

*

NA OFICINA SATUrADA
A IMPrESSOrA SUA
ENQUANTO O HOMEM
LHE INJETA ESPErMA
E ÂNSIA MOrTAIS
E A MULHEr SE MUTILA
PARA A GULA FEBrIL
NA RESISTÊNCIA DO COrPO

ENTRE O VAI-E-VEM
OS rAIOS – AS IMAGENS
FÓSSEIS VIVOS
QUE SE DEVOrAM

*
Recife, cidade do mangue
Incrustada na lama dos manguezais
Onde est
ão os homens caranguejos

RECIFE
OLINDA
(OU LINDA?)
CIDADE SEM PESSOAS
ONDE OS EDIFÍCIOS MORREM
AMARELOS DE FEBRE
E AS PONTES ENFERRUJAM
AOS PASSOS DO TEMPO QUE PASSA

CARANGUEJOS CIBERNÉTICOS AGONIZAM
AOS SOTAQUES TECNÓLOGOS SULISTAS
NA TRAMA DA LAMA
PALAFITAS SUFOCAM SOB
O INFERNO DOS CÉUS

CIDADE SEM CIÊNCIA
                SEM CHICO
                SCIENCE

Ó CIDADE QUE EU NUNCA VI
SÓ ESCUTEI

À Geração Manguebeat


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

...SECRETO DO TEMPO

Deitei-me com sombras tão álgidas em uma noite de festas e fogos multicores e insonoros

Suas mãos sombreadas pelo ardor do meu rosto me afagaram com dureza e ternura

Envolveram-me os ossos cinzentos fazendo-os estalarem como beijos de lábios trincados

Sussurram-me ruídos agudos em meus ouvidos cheios de sangue noite e de luz

Despiram-me com amorosidade e untaram meu corpo com trevas luminosas solidão e
                                                                                           [alegrias intempestivas

Tocaram-me com trêmula delicadeza Cortando-me os cílios e os medos
                                                   [E me inclinaram sobre mim mesmo
feito um túmulo celeste de flores amaldiçoadas


E só então pude dormir o sono profundo secreto do tempo

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

NEM EUMESMO

Que seja orgulho
a minha incompreensão
E vaidade
o meu segredo

Que seja vulnerável
o meu egoísmo
E suscetibilidade
o meu “eu-mesmo”

Que seja carência
o meu amor
E desejo
a minha solidão

Que seja fero afago
o meu carinho
E ódio
o meu olhar vermelho

Que seja imposição
o meu silêncio
E loucura
a minha lucidez

Que seja sublime
o meu escuro
E áspera
a minha luz

Que seja exato
o meu contrário
E oposto
o meu acerto

Que sejam flores negras
as minhas estrelas
E imenso mar
o meu céu revolto

Que seja vontade
o meu pensamento
E indiferença
o meu desespero

Que seja estar-sendo
o meu ser
E firmamento
a minha palavra


Quem sabe de mim senão nem eumesmo

Cruz e Sousa

Furiosa fúria
fosse fraqueza frívola
de teu furor fumegante
farias furtivos fulvos
e de teu frêmito frenesi
farias frágeis furações
Força
Forma
Formosura
Fragata furibunda
fosse fogo fátuo fastioso
fluirias feito fluído fétido
Ó força fabulosa
flâmula febril
formidável fogueira fluorescente
força fora todas as formas fugazes
Fuuu... Fuuu... Fuuu...!
Fulmina
força
fúria
famélico furação
fusão infinita de fagulhas
felina fênix feérica
fomentas fendas faiscantes
feneces falsas flores
Flamejas flecha flamejante
forças fleumáticas
Flambas fluidos flácidos
fragrâncias flatulentas
Furor fantástico
fragata furiosa
de infindos furações de fogo
faças fluir fogaréus de frescor
Fuuu...
Fuuu...
Fuuu...
(Vida)

Fogo...

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

MISTÉRIO DE ELIMAR

Elimar era um ser ENORME, muito mas muito GRANDE.

Tinha uns olhos profundos, vagas, vagos.

A gente nem sabia ao certo se Elimar era ele ou ela.

E isso aumentava inda mais nossa curiosidade.

Elimar às vezes passava pela gente e parecia que ia levar a gente junto. Era incrível!

Arrastava e devastava tudo com uma força fantástica. De tão emocionante chegava dar um pontinha de medo.

Eu e os outros queríamos nos aproximar d'Elimar mas não sabíamos como.

Os mais velhos viviam discutindo possíveis histórias sobre Elimar. Uns diziam que Elimar já tinha matado muito gente. Outros, que Elimar já tinha levado muita gente pra bem longe.

Tinha também aqueles que diziam que Elimar era culpado por muitas saudades e histórias corajosas.

Navegantes, guerras, donzelas, piratas, marinheiros, descobrimentos....

A gente ficava na dúvida, impressionados com tantas histórias fabulosas. Pensávamos e pensávamos, tanto e tanto, que a gente ficava tonto.

Ficar olhando pra Elimar, assim, durante muito tempo, meio que perdido, esquecido de tudo, enfeitiçado por aqueles olhos imensos, infinitos de se perder no horizonte... também deixava qualquer um tonto de zonzo.

Só que também se sentia uma calma danada se um olhasse pra Elimar quando estava tudo sereno, manhecido. Tão bom!

Tinha vontade de mergulhar em Elimar, me aprofundar pra sempre.

Igual àqueles seres que viviam dentro d'Elimar, nadando no seu corpo oceânico, marinho.

- Aquário móvel de amplidão!

Mais tarde, vamos reunir o pessoal pra contar mais histórias. Eu já escolhi a minha: vou dizer um poema – o poema Mistério de Elimar.


O mar tá de ressaca. E os pescadores vão ter que esperar.