Antes
de tudo, atentaram-se ao estranho fato de a gestação ter durado
somente 9 meses, quando o mais comum entre eles era uma gestação de
séculos.
Depois
foi aquilo. Aquela coisa horrenda e inacreditável, a macular para
sempre uma linhagem notável e sempiterna.
A
visão daquela pequena criatura a chorar estridentemente e os traços
de linhas embaralhadas nas palmas das pequenas mãos, ilustrando o
futuro tenebroso e tortuoso que aguardava aquele recém-nascido.
Não
havia dúvidas, assegurou-lhes a parteira-sacerdotisa, aquelas linhas
emaranhadas, e entre elas podia-se ver muitas cruzes, eram a marca do
grande mal que se abateria sobre a vida daquela criança e sobre
todos os descendentes daquela família. A menos que...
Os
pais se olharam abismados. Custava-lhes acreditar naquele infortúnio,
naquele despropósito cruel. Só poderia ser ultraje de deuses
embusteiros.
O
pai, sisudo e impiedoso, renegou o filho e amaldiçoou a mulher que
lhe dera aquele rebento monstruoso. Furioso em sua cólera jurou
abandoná-los imediatamente e desposar outra deusa que fosse mais
formosa, mais jovem e, certamente, mais venturosa.
A
mãe, aflita na sua compunção, desesperou-se perante aquela
perspectiva de perda do marido e de maldição. Arrancou a criança
das mãos da parteira e apunhalou o recém-nascido no peito,
fazendo-o balir como um cordeiro esfaqueado.
A
parteira-sacerdotisa soltou um grunhido indefinido e resmungou entre
dentes: a menos que... o destino se cumpra e matem o recém-nascido...