quinta-feira, 28 de março de 2013

O Natimorto dos Imortais

Antes de tudo, atentaram-se ao estranho fato de a gestação ter durado somente 9 meses, quando o mais comum entre eles era uma gestação de séculos.
Depois foi aquilo. Aquela coisa horrenda e inacreditável, a macular para sempre uma linhagem notável e sempiterna.
A visão daquela pequena criatura a chorar estridentemente e os traços de linhas embaralhadas nas palmas das pequenas mãos, ilustrando o futuro tenebroso e tortuoso que aguardava aquele recém-nascido.
Não havia dúvidas, assegurou-lhes a parteira-sacerdotisa, aquelas linhas emaranhadas, e entre elas podia-se ver muitas cruzes, eram a marca do grande mal que se abateria sobre a vida daquela criança e sobre todos os descendentes daquela família. A menos que...
Os pais se olharam abismados. Custava-lhes acreditar naquele infortúnio, naquele despropósito cruel. Só poderia ser ultraje de deuses embusteiros.
O pai, sisudo e impiedoso, renegou o filho e amaldiçoou a mulher que lhe dera aquele rebento monstruoso. Furioso em sua cólera jurou abandoná-los imediatamente e desposar outra deusa que fosse mais formosa, mais jovem e, certamente, mais venturosa.
A mãe, aflita na sua compunção, desesperou-se perante aquela perspectiva de perda do marido e de maldição. Arrancou a criança das mãos da parteira e apunhalou o recém-nascido no peito, fazendo-o balir como um cordeiro esfaqueado.
A parteira-sacerdotisa soltou um grunhido indefinido e resmungou entre dentes: a menos que... o destino se cumpra e matem o recém-nascido...