quero me perder no teu deserto
no deserto do teu corpo
nas dunas do teu dorso
quero me afogar nas areias dos teus cabelos
que as carícias das tuas mãos
me açoitem com a fúria de uma tempestade
que o silêncio entre nós
nos deixe ouvir
“os ruídos das estrelas”
Quando fores embora
e me deixar sozinha no vazio
me sentirei obrigada a ir em busca de nós
no deserto
a recolher memórias
como um arqueólogo de afetos
Talvez me vejas num take esquecido
dos teus filmes
a vagar por um mundo de poeira calor e frio
sedenta do companheiro de viagem perdido
e com olhos carregados de solidão e desejo
a estender os braços para tocar o teu rosto –
uma miragem de fato e gravata
no meu deserto
Um relato de
viagem; um texto autobiográfico; uma história de aventuras e situações anedóticas;
uma história de amor e sobre a impossibilidade do mesmo; sobre a fragilidade e
grandiosidade da vida diante da vastidão desértica da Natureza, do Universo;
apenas uma singela homenagem; ou até mesmo um relato de arrependimento por algo
que não se fez... Ou tudo isso, ou nada disso, e somente o eficiente efeito de
um recurso ficcional, onde traços biográficos reais se mesclam de forma
praticamente indistinta de acontecimentos ficcionais.
A verdade é que
No Teu Deserto, do escritor português Miguel Sousa Tavares, é um desses
preciosos livros em que, a despeito de um texto despretensioso, deparamo-nos
com um belo e poético “relato” do encontro e desencontro entre duas pessoas
durante a viagem delas para o deserto do Saara (personagem este que pode ser
entendido como uma metáfora da desolada condição humana).
Entre em
contato com seu agente de viagem ou procure uma agência de viagem, e solicite
um pacote para o Deserto do Saara. Perante o silêncio aturdido do atendente,
diga, da maneira mais calma e despreocupada possível, sobre seu intuito com tal
viagem: provar, experimentar e ler a mesma experiência narrada por Miguel
(autor/personagem) em sua viagem para esse destino, na qual ele conhece
Cláudia.
“Esta
história que vou contar passou-se há vinte anos. Passou-se comigo há vinte anos
e muitas vezes pensei nela, sem nunca a contar a ninguém, guardando-a para mim,
para nós, que a vivemos. Talvez tivesse medo de estragar a lembrança desses
longínquos dias, medo de mover, para melhor expor as coisas, essa fi na camada
de pó onde repousa, apenas adormecida, a memória dos dias felizes.” – No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares, página 9, Editora
Companhia das Letras, 2009