terça-feira, 16 de março de 2021

Invocando deus-Cosmo

 Oh deus, deus, deus

por quê eu não acredito mais em você

em algo assim maior do que eu

Meu ateísmo ressentido é só isso, deus

esse sentimento doído

de gozo forçado

de saber que sou pequeno

e que você nos abandonou

ou fomos nós que o deixamos para trás

como uma roupa velha que não nos veste mais

ou como chinelos rasteiros de correias arrebentadas


Oh deus, deus, deus

por quê não consigo mais acreditar

naquelas que alegam terem sido suas palavras

palavras tão humanas, oblíquas, inexatas

É um inferno - eu lhe confesso - eu lhe imploro

ser assim só nós - só eu (sou eu?)


E essa dúvida constante de será que nos ouve

E se nos ouve, por que então não nos responde [diretamente

sem mensagem cifrada ou spam inconsciente


Eu lhe perdôo por ser assim

esse corpo sem forma, essa luz sem brilho

essa seta que corta o vento

e ao mesmo tempo o deforma


Oh deus, então é isso, esse espaço vazio

Vácuo

Somos só nós dois: matéria e antimatéria

se aniquilando constantemente

para que um Outro além de nós possa existir


Eu não sou, não existo

Sem nós é você que inexiste

Hipótese ontológica improvável


O único que há, sem que haja

É o Cosmo - esse infinito feto