Oh deus, deus, deus
por quê eu não acredito mais em você
em algo assim maior do que eu
Meu ateísmo ressentido é só isso, deus
esse sentimento doído
de gozo forçado
de saber que sou pequeno
e que você nos abandonou
ou fomos nós que o deixamos para trás
como uma roupa velha que não nos veste mais
ou como chinelos rasteiros de correias arrebentadas
Oh deus, deus, deus
por quê não consigo mais acreditar
naquelas que alegam terem sido suas palavras
palavras tão humanas, oblíquas, inexatas
É um inferno - eu lhe confesso - eu lhe imploro
ser assim só nós - só eu (sou eu?)
E essa dúvida constante de será que nos ouve
E se nos ouve, por que então não nos responde [diretamente
sem mensagem cifrada ou spam inconsciente
Eu lhe perdôo por ser assim
esse corpo sem forma, essa luz sem brilho
essa seta que corta o vento
e ao mesmo tempo o deforma
Oh deus, então é isso, esse espaço vazio
Vácuo
Somos só nós dois: matéria e antimatéria
se aniquilando constantemente
para que um Outro além de nós possa existir
Eu não sou, não existo
Sem nós é você que inexiste
Hipótese ontológica improvável
O único que há, sem que haja
É o Cosmo - esse infinito feto