Breves
considerações sobre a tristeza e a melancolia sob uma perspectiva nietzschiana
- Eu não estou triste. Sou melancólico. Qual a diferença?
Bem, o triste acha tudo sem graça, as pessoas, as coisas, a
vida, por uma ou mais razões. Já o melancólico acha que, apesar de nem tudo ter
graça e sentido e razão, ainda assim a Vida é uma experiência que vale a pena.
O triste, geralmente, é um debochado, um cínico, um
fatalista. O melancólico acha que cinismo e ceticismo sem alegria são sintomas
nem sempre óbvios de desespero e agonia; e por isso, considera-se um ser trágico.
O que o triste sente ele contamina a natureza, as suas
formas, as suas cores, a sua contingência. O melancólico tem consciência de
que, independente do que ele sente, só ele sente, ainda que outros tenham
sentimentos semelhantes.
O triste confirma sua visão de mundo nas desgraças da existência,
e se desfaz, facilmente, diante de sua patética solidão a encarar-lhe do
espelho. O melancólico sente a dor de cada perda, a dor de cada angústia sem
motivo aparente, mas, de alguma forma, se alegra quando vê seu reflexo frágil de
coragem e medo.
O que sabe que irá morrer e se ressente da vida por isso é
um sujeito triste, é uma pessoa com os olhos encobertos pela densa névoa da
tristeza.
O melancólico também sabe que vai morrer, isso
ele não nega, nem poderia ignorar. Mas também sabe que, enquanto isso não acontecer,
terá que viver, escolher, sofrer, amar, perder, ser feliz, ou talvez nem todo
esse amálgama de experiências vitais. E é aí, exatamente, nesse ponto de
incerteza que reside a força, o desejo, o afã que o impulsiona para que siga,
para que diga sim à Vida.