sexta-feira, 28 de abril de 2017

Tristeza x Melancolia


Breves considerações sobre a tristeza e a melancolia sob uma perspectiva nietzschiana

- Eu não estou triste. Sou melancólico. Qual a diferença?

Bem, o triste acha tudo sem graça, as pessoas, as coisas, a vida, por uma ou mais razões. Já o melancólico acha que, apesar de nem tudo ter graça e sentido e razão, ainda assim a Vida é uma experiência que vale a pena.

O triste, geralmente, é um debochado, um cínico, um fatalista. O melancólico acha que cinismo e ceticismo sem alegria são sintomas nem sempre óbvios de desespero e agonia; e por isso, considera-se um ser trágico.

O que o triste sente ele contamina a natureza, as suas formas, as suas cores, a sua contingência. O melancólico tem consciência de que, independente do que ele sente, só ele sente, ainda que outros tenham sentimentos semelhantes.

O triste confirma sua visão de mundo nas desgraças da existência, e se desfaz, facilmente, diante de sua patética solidão a encarar-lhe do espelho. O melancólico sente a dor de cada perda, a dor de cada angústia sem motivo aparente, mas, de alguma forma, se alegra quando vê seu reflexo frágil de coragem e medo.

O que sabe que irá morrer e se ressente da vida por isso é um sujeito triste, é uma pessoa com os olhos encobertos pela densa névoa da tristeza.
O melancólico também sabe que vai morrer, isso ele não nega, nem poderia ignorar. Mas também sabe que, enquanto isso não acontecer, terá que viver, escolher, sofrer, amar, perder, ser feliz, ou talvez nem todo esse amálgama de experiências vitais. E é aí, exatamente, nesse ponto de incerteza que reside a força, o desejo, o afã que o impulsiona para que siga, para que diga sim à Vida.