sábado, 6 de agosto de 2022

Poetas roubam

Otto, os poetas roubam

Roubam tudo que é poesia

Eles roubam a luz da manhã

E do sol da tarde que arde fria


Os poetas roubam

Eles não sabem criar

São crianças imersas

Em palavras diversas

De versos e rimas

Poetas roubam

Esse é seu jeito de brincar


Os poetas roubam 

Suspiros apaixonados

E o choro convulso

De quem se desespera

E guardam tudo em suas memórias confusas

Escrevem como se sentissem

E sentem o que não escrevem


Nunca confie num poeta, Otto

Poetas roubam

E a poesia não passa de uma coleção

De objetos e artefatos alheios


Poetas roubam

Aquele beijo doce

Roubam

Aquele grito amargo

Roubam

Aquele riso frouxo

Roubam

Aquele triste fado


Suas palavras versam sobre a Vida e a Morte -

Esta lida contínua entre a sobrevivência e a plenitude

Eles clamam "Viver é eterno!

Mas amar, amar dura só um instante"


O verso encobre a tragédia do existir

Viver sempre foi um exercício

Um jogo de amarelinha, não é mesmo Horácio

Uma brincadeira à beira do Grande Abismo

Ainda que houvesse Céu e Inferno

Entre eles também haveria de ter 

muitos passos, muitas casas

Atirar uma pedra em rumo delas

é jogar-se no mundo e se arriscar

Poucos sabem ignorar a máxima suprema -

Viver é muito perigoso


Ouve! Escuta! Repara nestes versos...

É assim que eles nos roubam, Otto

Distraídos, rimam, versam, nos hipnopoetizam

Poetas... roubam