Otto, os poetas roubam
Roubam tudo que é poesia
Eles roubam a luz da manhã
E do sol da tarde que arde fria
Os poetas roubam
Eles não sabem criar
São crianças imersas
Em palavras diversas
De versos e rimas
Poetas roubam
Esse é seu jeito de brincar
Os poetas roubam
Suspiros apaixonados
E o choro convulso
De quem se desespera
E guardam tudo em suas memórias confusas
Escrevem como se sentissem
E sentem o que não escrevem
Nunca confie num poeta, Otto
Poetas roubam
E a poesia não passa de uma coleção
De objetos e artefatos alheios
Poetas roubam
Aquele beijo doce
Roubam
Aquele grito amargo
Roubam
Aquele riso frouxo
Roubam
Aquele triste fado
Suas palavras versam sobre a Vida e a Morte -
Esta lida contínua entre a sobrevivência e a plenitude
Eles clamam "Viver é eterno!
Mas amar, amar dura só um instante"
O verso encobre a tragédia do existir
Viver sempre foi um exercício
Um jogo de amarelinha, não é mesmo Horácio
Uma brincadeira à beira do Grande Abismo
Ainda que houvesse Céu e Inferno
Entre eles também haveria de ter
muitos passos, muitas casas
Atirar uma pedra em rumo delas
é jogar-se no mundo e se arriscar
Poucos sabem ignorar a máxima suprema -
Viver é muito perigoso
Ouve! Escuta! Repara nestes versos...
É assim que eles nos roubam, Otto
Distraídos, rimam, versam, nos hipnopoetizam
Poetas... roubam