terça-feira, 16 de julho de 2013

O ESQUELETO

Entre as roupas mofadas com cheiro de naftalina, o esqueleto estava pendurado num cabide especial.
A pele abriu a porta do armário e, tocando a textura das roupas penduradas, sentiu a frialdade da estrutura de cálcio. Pegou o esqueleto e o vestiu.
Após acomodar as partes e alisar as dobras e amassados, olhou-se no espelho: ajeitou as órbitas oculares e os ombros que estavam em desarmonia com o resto do corpo.
Abriu uma gaveta na penteadeira e escolheu uma peruca. Cabelos pretos, fios longos. Acomodou as têmporas e se penteou sem muita convicção.
Calçou os sapatos que lhe vieram obedientes.
Abriu o armário novamente e demorou um pouco na escolha do figurino. Repreendeu-se: sempre se esquecia de se vestir antes de colocar o calçado. Para não ter que tirar os sapatos, escolheu uma calça ou um short de boca larga.
Foi até a beira da cama onde, sobre os lençóis amarrotados, estava uma caixinha de joias. Apertou um trinco. A caixinha se abriu. Entre o brilho das joalherias, aspirou a pérola ciano. Sentiu o corpo inflar completamente. A circulação sanguínea e os estímulos nervosos. Encheu os pulmões de ar e inspirou ruidosamente. Animou-se.
Enfiou o revólver no bolso da blusa e foi para rua. Em busca de um novo figurino – um novo esqueleto.


Um comentário: