Entre as roupas mofadas com cheiro de naftalina, o
esqueleto estava pendurado num cabide especial.
A pele abriu a porta do armário e, tocando a textura
das roupas penduradas, sentiu a frialdade da estrutura de cálcio.
Pegou o esqueleto e o vestiu.
Após acomodar as partes e alisar as dobras e amassados,
olhou-se no espelho: ajeitou as órbitas oculares e os ombros que
estavam em desarmonia com o resto do corpo.
Abriu uma gaveta na penteadeira e escolheu uma peruca.
Cabelos pretos, fios longos. Acomodou as têmporas e se penteou sem
muita convicção.
Calçou os sapatos que lhe vieram obedientes.
Abriu o armário novamente e demorou um pouco na escolha
do figurino. Repreendeu-se: sempre se esquecia de se vestir antes de
colocar o calçado. Para não ter que tirar os sapatos, escolheu uma
calça ou um short de boca larga.
Foi até a beira da cama onde, sobre os lençóis
amarrotados, estava uma caixinha de joias. Apertou um trinco. A
caixinha se abriu. Entre o brilho das joalherias, aspirou a pérola
ciano. Sentiu o corpo inflar completamente. A circulação sanguínea
e os estímulos nervosos. Encheu os pulmões de ar e inspirou
ruidosamente. Animou-se.
Enfiou o revólver no bolso da blusa e foi para rua. Em
busca de um novo figurino – um novo esqueleto.
Belíssimo!
ResponderExcluir