quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Poema Fraternal

À memória de meu irmão Flavio

Só depois de um tempo
é que percebo que tudo foi um sonho

Eu e você a correr no meio da rua
a fazer algo que nunca fizemos juntos –
empinar pipa
Você me sorri
enquanto me vê correr
tentando colocar uma rabiola
numa pipa que voa baixo e que não sabemos de quem seja
Um carro passa – um susto -, quase me atropela
Você joga seu chinelo contra o carro
que segue rápido e some numa curva invisível
Nós dois sorrimos
Como é possível se a rua é reta?
Sorrimos e nos divertimos
Não percebo que só pode ser um sonho
Na vida real, enquanto você era vivo
não tenho lembranças de nós dois assim juntos
correndo, felizes, sorrindo

(Me lembro apenas de que, como uma mãe perdida em zelos, eu tinha um medo danado de que você nunca aprendesse a jogar bola e que, com isso, sofresse nas mãos dos outros garotos)

Quando dou por mim
estou no banheiro diante do espelho
É madrugada, acho
Tenho os olhos cheios de lágrimas
(você me sorria...)
Tudo, meu irmão, foi um sonho
apenas um sonho

O reflexo no espelho

é você, meu irmão
morto

Nenhum comentário:

Postar um comentário