À memória de meu irmão Flavio
Só depois de
um tempo
é que percebo
que tudo foi um sonho
Eu e você a
correr no meio da rua
a fazer algo
que nunca fizemos juntos –
empinar pipa
Você me
sorri
enquanto me
vê correr
tentando
colocar uma rabiola
numa pipa que
voa baixo e que não sabemos de quem seja
Um carro
passa – um susto -, quase me atropela
Você joga seu
chinelo contra o carro
que segue
rápido e some numa curva invisível
Nós dois
sorrimos
Como é
possível se a rua é reta?
Sorrimos e
nos divertimos
Não percebo que
só pode ser um sonho
Na vida real, enquanto você era vivo
não tenho
lembranças de nós dois assim juntos
correndo,
felizes, sorrindo
(Me lembro apenas de que, como uma mãe perdida em zelos, eu
tinha um medo danado de que você nunca aprendesse a jogar bola e que, com isso,
sofresse nas mãos dos outros garotos)
Quando dou
por mim
estou no
banheiro diante do espelho
É madrugada,
acho
Tenho os
olhos cheios de lágrimas
(você me
sorria...)
Tudo, meu
irmão, foi um sonho
apenas um
sonho
O reflexo no
espelho
é você, meu irmão
morto
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