O que me resta
é me contentar com a ambiguidade do seu silêncio,
das suas poucas palavras
Logo eu, que me achava tão
lacônico, soturno
A desilusão
é saber que o seu silêncio é só isso:
não a ausência óbvia de palavras,
mas tão somente silêncio,
sem camadas de sentidos ocultos,
sem sombras metaforizadas,
sem entrelinhas enviesadas
Talvez até seja o signo ainda incompreendido, por mim,
de um sentimento mais ameno ou até mesmo mais amargo
Você bem me conhece, sabe o
quanto é inevitável
essas minhas armadilhas verbais,
essas divagações
Eu levanto os olhos do papel onde escrevo
(outra mentira: escrevo direto na
tela do celular ou do computador)
e procuro seu rosto, uma imagem sua, uma lembrança...
Mas o silêncio (de novo ele), o silêncio é como uma
assombração
presente em cada
recanto de uma casa onde você nunca esteve
Isso me provoca delírios, e fico cheio de esperanças
No entanto, sei que estou
sombrio, e que a doença é mais que um simples e pretensioso verso
Tudo bem, não precisa dizer nada
(como se eu conseguisse fazer
você falar, ou como se eu merecesse ter em meus ouvidos sua voz a me dizer
qualquer coisa)
Ainda estou absorto nesse exílio de mudez e
palavras - seu olhar
II
Vou fazer desse seu silêncio algo que eu não soube ou não
fui capaz de fazer de mim [mesmo
de nós:
um ponto singular no
Universo
onde não há nada de
mais
do que a latente
possibilidade
de uma voz se
expandir
e (me) dizer
oi
ou dessa mesma voz
se contrair
e apenas (me) sorrir
um sorriso mudo
sincero
um apelo carinhoso
de que eu não diga
mais nada
e fique quieto
a ouvir esse silêncio
que há em mim
e que é você
a sua voz
eu sei
No
ar
partículas imóveis
mas eu sei
posso ouvir
você
aqui
comigo
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