quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Silêncio


O que me resta
é me contentar com a ambiguidade do seu silêncio,
das suas poucas palavras
Logo eu, que me achava tão lacônico, soturno

A desilusão
é saber que o seu silêncio é só isso:
não a ausência óbvia de palavras,
mas tão somente silêncio,
sem camadas de sentidos ocultos,
sem sombras metaforizadas,
sem entrelinhas enviesadas

Talvez até seja o signo ainda incompreendido, por mim,
de um sentimento mais ameno ou até mesmo mais amargo

Você bem me conhece, sabe o quanto é inevitável
essas minhas armadilhas verbais, essas divagações

Eu levanto os olhos do papel onde escrevo
(outra mentira: escrevo direto na tela do celular ou do computador)
e procuro seu rosto, uma imagem sua, uma lembrança...
Mas o silêncio (de novo ele), o silêncio é como uma assombração
presente em  cada recanto de uma casa onde você nunca esteve
Isso me provoca delírios, e fico cheio de esperanças

No entanto, sei que estou sombrio, e que a doença é mais que um simples e pretensioso verso

Tudo bem, não precisa dizer nada
(como se eu conseguisse fazer você falar, ou como se eu merecesse ter em meus ouvidos sua voz a me dizer qualquer coisa)

Ainda estou absorto nesse exílio de mudez e palavras - seu olhar

II

Vou fazer desse seu silêncio algo que eu não soube ou não fui capaz de fazer de mim                                                                                                                                      [mesmo
de nós:
um ponto singular no Universo
onde não há nada de mais
do que a latente possibilidade
de uma voz se expandir
e (me) dizer
oi
ou dessa mesma voz
se contrair
e apenas (me) sorrir
um sorriso mudo
sincero
um apelo carinhoso
de que eu não diga mais nada
e fique quieto
a ouvir esse silêncio que há em mim
e que é você
a sua voz
eu sei

No
ar
partículas imóveis
mas eu sei
posso ouvir
você
aqui

comigo

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