Ela
– o pensamento em mim
Não
basta estar ao seu lado
É
no seu pensamento
Que
eu quero estar com você
Fico pensando. Quero saber no que
ela pensa. Se pensa em mim. Se sente necessidade de saber o que
penso, como estou. Se ela sente minha falta, minha ausência. Meu
silêncio.
Não me importa muito saber onde
ela está com quem ela está. O que quero o que me preocupa e me
interessa é saber se ela está com a cabeça em mim. Distraída,
absorta. Os pensamentos dela cogitando sobre mim. Sobre o que penso.
Se penso nela.
Penso nela. Muito. Muito mesmo. A
cabeça dói. Os pensamentos se dilatam. O estômago. As enzimas. O
sofrimento é na carne. O organismo implora, precisa dela. Ela, meu
alimento. Minha morfina. A ausência dela, uma crise de abstinência.
Azia. Cólica. Diarreia de maus pensamentos. Ideias ocas, frouxas.
Confusas.
O que ela pensa?
O que ela pensa?
Pensa em mim, na certa.
Não sei. Não se sabe. Tantas
outras coisas na vida, no dia a dia. No inferno do cotidiano.
Exterminar tudo. Só eu e ela. O
outro para si mesmo. Nós dois. Mais nada. Sem aflições, pessoas,
acontecimentos alheios.
Os dois a par de tudo o que
acontece e se passa com o outro. Sem mistério. Sem segredos. Sem
distâncias.
Eu sei o que ela pensa.
— sei o que você pensa. Você
não pensa em mim durante todo o tempo. Tem outras coisas, eu sei.
Outras coisas, mas será que você não sabe, essas outras coisas são
insignificantes. Não servem para nada. Só para nos destruir. Para
nos distanciar. Gosto de você. Quero você. Quero que você pense em
mim a todo momento. Sem se deixar distrair pelo mundo em volta. Ele
não interessa. Obsessão, quero ser o seu objeto de obsessão. É
isso. Obsessão. Delírio. Devaneio. Ternura.
Quero saber o que ela pensa
quando pensa em mim. O que ela sente. Como se sente. Alegria. Alívio.
Desejo.
— eu penso em você. Me ocupo
só de você. Não passo um segundo sem pensar em você. Você a todo
momento. Você a toda hora. Penso sem você, que você pensa em mim
também naquele exato momento, e me sinto bem. Sinto conforto.
Segurança. Tudo faz sentido num mundo de absurdos. Minhas ideias
ficam claras. Meus olhos brilham.
Ah, como tudo é maravilhoso, ela
pensa em mim!
Até mesmo quando olha para outra
pessoa. Até mesmo quando conversa com outro alguém. E até nas
ocasiões mais improváveis, sim, sou eu o pensamento dela.
Não haveria por quê ser
diferente, de outra maneira. Estou na cabeça dela. Sou sua ideia
fixa. Seu pensamento constante. E quando ela pensa em mim não há
com que se preocupar.
A vida plena, a vida bela somos
nós dois. Um em relação ao outro. Pensamos do mesmo jeito,
pensamos as mesmas coisas porque pensamos, sem parar, sem tréguas,
um no outro.
Pensar nisso tudo ainda não é
suficiente para me acalmar. Confio nela. Sem dúvida. Mas o cérebro
da gente é uma presa fácil. Vulnerável. Se deixa fisgar
facilmente. Mas é preciso resistir – ela sabe. Eu sei que ela
sabe, que ela pensa em mim.
Eu sei muitas coisas. Muitas
coisas que não me servem de nada. Queria ter a ciência, a
capacidade intuitiva, a habilidade física de saber os pensamentos
dela, de adivinhá-los. De transformar todos eles em pensamentos
sobre mim. Um mimetismo intelectual, afetivo, amoroso. Reflexivo.
A razão dela passando por mim.
Suas palavras ocultas. Eu filtrando tudo. Purificando. Contaminando.
Tudo que ela pensasse seria em mim. Sobre mim. Nós dois. Mais nada.
Mais ninguém.
A vida essencial – somente eu e
ela. Numa confluência infinita de pensamentos, reflexões, desejos,
sonhos.
A existência perfeita – eu,
pensando nela, ela, o pensamento em mim.
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