Ela volta a prestar atenção na aula. O
professor continua falando sobre as borboletas. Sobre o longo tempo entre o primeiro
e o segundo estágios necessários para que a borboleta se transforme no que é.
Depois, ela vive vinte 24 horas, um dia, e morre, quem sabe se perguntando se
ela viveria por mais longos anos...
“Só que esse questionamento sobre a
brevidade da existência é coisa da nossa espécie humana. Não se iludam quanto a
isso, ok?”
“Coisa da nossa espécie...?”, Clarice
pergunta com voz tão baixa que ninguém escuta. Mas sua intenção era essa mesma,
que ninguém escutasse, porque, de alguma forma, Clarice sabe que ninguém saberá
ao certo responder a essa pergunta.
Um pouco triste, ela folheia o livro de
Biologia e vai se alegrando aos poucos, conforme vê a diversidade de cores e
formas das borboletas. Umas têm asas tão coloridas e com desenhos enigmáticos.
Outras parecem ter olhos bem grandes e negros contornados por um azul fraquinho
nas asas. Asas abertas, estas parecem dois olhos enormes. E quando a borboleta
bate as asas deve parecer olhos piscando. “Assim:...”
Clarice fecha os olhos e quando os abre
novamente, ela já está em casa. Deitada. O dia já passou. O Sol já se foi.
Borboletas nasceram, cresceram e morreram. Antes, voaram e voaram muito por aí,
pelos ares, pelo céu. Entrando em flores e sugando néctar. Arranjando pares.
Fugindo de caçadores. Se aventurando, vivendo e... finalmente, morrendo.
“Elas têm sangue? Será que sabem quando
estão morrendo? Se não, como explicar essa pressa em viver e fazer tantas
coisas...?”
A menina sente algo frio, muito frio, vindo
lá de dentro dela, bem do fundo do seu ser. Fica quieta, parada, apreensiva.
Sente algo escorrendo entre suas pernas. É algo líquido. É gelado, muito
gelado. É vermelho. O chão fica tingindo de vermelho como o céu quando está no
fim de tarde. Clarice tem vontade chorar, de gritar, de pedir socorro. Mas sabe
que não há dor, só sofrimento, e ela completamente só no seu quarto.
Ela se levanta, vai
até a janela. Abre. E os raios de Sol invadem o seu quarto numa explosão
amarela e quente. Clarice sorri, cega de luz. Bate os braços como se fossem
asas e pousa na cama como se fosse uma borboleta despertando para o instante
eterno e perfeito que só durará 24 horas.
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