quarta-feira, 7 de setembro de 2016

24 HORAS - PARTE II


Ela volta a prestar atenção na aula. O professor continua falando sobre as borboletas. Sobre o longo tempo entre o primeiro e o segundo estágios necessários para que a borboleta se transforme no que é. Depois, ela vive vinte 24 horas, um dia, e morre, quem sabe se perguntando se ela viveria por mais longos anos...

“Só que esse questionamento sobre a brevidade da existência é coisa da nossa espécie humana. Não se iludam quanto a isso, ok?”

“Coisa da nossa espécie...?”, Clarice pergunta com voz tão baixa que ninguém escuta. Mas sua intenção era essa mesma, que ninguém escutasse, porque, de alguma forma, Clarice sabe que ninguém saberá ao certo responder a essa pergunta.

Um pouco triste, ela folheia o livro de Biologia e vai se alegrando aos poucos, conforme vê a diversidade de cores e formas das borboletas. Umas têm asas tão coloridas e com desenhos enigmáticos. Outras parecem ter olhos bem grandes e negros contornados por um azul fraquinho nas asas. Asas abertas, estas parecem dois olhos enormes. E quando a borboleta bate as asas deve parecer olhos piscando. “Assim:...”

Clarice fecha os olhos e quando os abre novamente, ela já está em casa. Deitada. O dia já passou. O Sol já se foi. Borboletas nasceram, cresceram e morreram. Antes, voaram e voaram muito por aí, pelos ares, pelo céu. Entrando em flores e sugando néctar. Arranjando pares. Fugindo de caçadores. Se aventurando, vivendo e... finalmente, morrendo.

“Elas têm sangue? Será que sabem quando estão morrendo? Se não, como explicar essa pressa em viver e fazer tantas coisas...?”

A menina sente algo frio, muito frio, vindo lá de dentro dela, bem do fundo do seu ser. Fica quieta, parada, apreensiva. Sente algo escorrendo entre suas pernas. É algo líquido. É gelado, muito gelado. É vermelho. O chão fica tingindo de vermelho como o céu quando está no fim de tarde. Clarice tem vontade chorar, de gritar, de pedir socorro. Mas sabe que não há dor, só sofrimento, e ela completamente só no seu quarto.
Ela se levanta, vai até a janela. Abre. E os raios de Sol invadem o seu quarto numa explosão amarela e quente. Clarice sorri, cega de luz. Bate os braços como se fossem asas e pousa na cama como se fosse uma borboleta despertando para o instante eterno e perfeito que só durará 24 horas.

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