segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Tenho caminhado pela noite

Tenho tido noites insones, maldormidas Tenho vagado pela noite
Entrando e saindo em becos de madrugadas
onde amantes se rasgam
na euforia de corpos frenéticos
A madrugada vermelho-escura geme - 
é da minha boca que sai os seus gemidos

Tenho andado pela noite
esbarrando em sonhos
de balões que estouram, 
pipas que não voam, 
palhaços malditos
Fantasmas me assombram
e eu atônito do sentimento de medo
mesmo homem crescido

Crescer não é o mesmo que amadurecer
Frutas amadurecem suspensas em galhos:
Prontas, felizes com o salto para a Morte
Eu tenho morrido diversas vezes
e de diferentes maneiras
Viver é ter que escolher entre infinitas possibilidades
A noite inquisidora te pergunta: então, o que queres?
Você puxa o cobertor, abre um livro,
entorpece a mente
Mas a Dúvida está sempre presente
A te espreitar sem brilho nos olhos,
um riso debochado - o que queres de mim?

Tenho caminhado pela noite
sussurrando teu nome baixinho
para que a força das palavras
não invoquem tua presença
Estarás dormindo? Ou também perdida em meio a pensamentos que te arrastam para uma praia vasta e iluminada
onde tudo é sombra e luz

Tenho caminhado pela noite
procurando teu nome
em paredes de concreto, frases não ditas,
choros escondidos,
como se fosse possível encontrar algo tão frágil, sensível
num mundo onde ruas acabam 
em curvas sem sentido

Tenho caminhado pela noite
sonâmbulo, soturno
procurando teu nome
em lugares impossíveis
E é nessa busca perdida e malfadada
onde encontro teus olhos
me olhando distantes
a me questionar: o queres de mim?

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